05 setembro 2016

Momentos de reflexão: Pai e filha...



Ultimamente tenho ido muito para São Paulo, por conta de ter iniciados alguns estudos para me aprofundar melhor em minha área de atuação. Geralmente nestas idas e vindas de lá para cá, acontecem muitas coisas, mas nada de um tom relevante, que me desperte vontade de escrever. 

Nesta ultima viagem, comprei a ultima passagem de ônibus para o horário das 19:00 e segui sem muitas expectativas. Estava cansada, um pouco chateada, pois tinha passado muito tempo pensando nos problemas da vida, e apenas desejando chegar o mais rápido possível ao meu destino. 

Quando entrei no ônibus me dirigi até o fundo, pois a minha poltrona era a 46. Quando cheguei lá uma moça estava sentada e vi que tinha uma sacola grande de compras encostada na parede do banheiro, imediatamente me ofereci para trocar de lugar, já que era indiferente para mim o local do meu acento. A mulher imediatamente aceitou demonstrando estar muito grata, me disse o número de sua poltrona que era a 7 e então, após me despedir, me dirigi até o começo do ônibus novamente.  

Quando finalmente cheguei na poltrona 7, um policial me ajudou com a mala e me sentei no acento da janela ao lado de uma senhora. Atrás de mim havia uma menina de provavelmente 5 anos de idade, e seu pai. Minha viagem se seguiu com constantes chutes involuntários na poltrona vindos da criança, que conversava com o pai empolgada sobre os mais diversos assuntos do seu dia-a-dia.

Novamente, me encontrava em uma situação onde nada me chamava a atenção, comecei a me questionar se a minha falta de inspiração se dava por não encontrar coisas interessantes ou se simplesmente o meu estado de humor não me permitia encontrar nada. Após uma hora e meia de constantes chutes e tentativas de compreender melhor a minha vida, escuto da menina: 

Criança: "Papai, não existe essa coisa de brinquedo de menino e brinquedo de menina, né?"
Pai: "Não filha, você pode brincar com o que você quiser"
Criança: "Esses dias na escola eu estava brincando de carrinho com o Fulano, e a Fulana disse que eu não podia brincar de carrinho, porque era brinquedo de menino, mas eu brincar de carrinho não me faz um menino. Eu brinco e gosto de brincar de carrinho porque é legal, e um dia quando eu ficar adulta eu vou dirigir um carro, então não tem problema brincar de carrinho."
Pai: "Isso mesmo filha, as vezes a Fulana não sabe que as crianças podem brincar com o brinquedo que elas quiserem, e que não existe brinquedo de menina e brinquedo de menino, brinquedos são para brincar e pronto."
Criança: "É verdade, o Fulano também brincou com a minha boneca, e foi legal. Os meninos podem brincar de boneca, até porque quem cuida de mim não é só a mamãe né? Você também cuida e isso não te faz menina. Eu posso brincar de carrinho e dirigir um carro quando crescer, e o Fulano pode brincar de boneca ser um papai um dia."
Pai: "É verdade filha."



Logo em seguida o ônibus parou e desci. 
A conversa entre pai e filha não tinha absolutamente nada haver com todas as questões que estavam aflorando na minha cabeça naquele momento. Na verdade se tratava de um assunto completamente oposto, mas muito discutido nas atualidades. Eu fiquei extremamente impressionada em como uma criança pode entender e explicar questões que para muitos são tão complicadas de serem entendidas. 

Feminismo a parte, a criança ao brincar fantasia, imagina, e testa papéis sociais. Uma menina que brinca com sua boneca pode estar fantasiando a si mesma no papel de mãe, tia, irmã mais velha, ou até "representando" uma situação que aconteceu com ela, e assim por diante. O menino que brinca de carrinho pode estar fantasiando que é um piloto de corrida, um motorista, o passageiro, etc etc etc. Ainda hoje há muito preconceito com o brincar, quando o mesmo deveria ser incentivado em todos  os seus âmbitos e das mais diversas formas. 

Quando trabalhava em uma escola observava uma coisa muito interessante e divertida. Toda sexta-feira era dia de brinquedo, as crianças traziam os brinquedos de casa para brincar com seus colegas. 

No primeiro momento, as crianças ficavam com os seus respectivos brinquedos mostrando para os seus amigos, em seguida deixavam esses brinquedos de lados e começavam a brincar com os brinquedos dos seus amigos, e mais tarde misturavam todos os brinquedos e faziam as mais diversas histórias durante a brincadeira. Um lápis virava uma injeção, uma boneca se tornava bebê onde uma criança representava a mãe e a outra o médico, e também tinham as enfermeiras! Enfim, as brincadeiras eram criadas pelas próprias crianças e representavam várias histórias do mundo infantil e adulto. 

O efeito mais engraçado durante estes dias, era que os meninos sempre se dirigiam aos brinquedos das meninas, enquanto as meninas sempre iam brincar com os brinquedos dos meninos, e o que isso significa? Apenas que estão sendo crianças, matando a curiosidade de brinquedos que muitas vezes não estão presentes em suas casas, brincando juntas, aprendendo a desenvolver papéis, dividir, e todas as outras coisas positivas que o brincar. 



Este texto não é um texto feminista muito menos acadêmico sobre o brincar e suas implicações. A minha unica intenção com este texto é relatar um acontecimento que me chamou a atenção de um dia aleatório da minha vida. Além disso, eu queria pedir aos adultos, pais, mães, professores, tios, tias, guardiões, babás, cuidadores, enfim, todos que tem algum contato com crianças, para que deixem suas crianças livres para brincar, deixem que a imaginação tome conta dos seus momentos de brincadeiras, esta atividade é tão importante para sua criatividade e desenvolvimento, vamos deixar nossas crianças serem crianças! 

Meus sinceros parabéns a esse pai, que em toda a viagem conversou com sua filha prestando atenção em cada assunto, doando de verdade o seu tempo e atenção para sua filha, coisa que infelizmente hoje muitos tem dificuldade de fazer. 

Um comentário:

  1. Adorei seu post reflexão, por um momento, lembrei do meu amado e eterno pai, que me deixou nesse ano.
    E lendo tudo isso, me fez sentir saudades de antigamente, quando tinha ele ao meu lado, cuidando de mim.
    Beijos. ♥

    Diário da Lady

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